terça-feira, 25 de junho de 2013

Eu, helena, vivi rodeada de sonhos, procurava o amor em cada espaço, em cada sorriso...foram tantas buscas, tantos amores, tantos prazeres...Em cada alma, uma procura, em cada rosto, uma esperança. Na busca milimétrica vivi, em cada corpo, cada gesto, cada ser.
Eu, helena, acampamento de Santo Antônio do Rio Madeira, 1917. Encontro-me em meio ao espaço-homem, com amores mal resolvidos, desejos incompreensíveis e sonhos perdidos. Os ferros batiam, tiniam, gritavam horas e horas. Cada batida, um compasso da minha espera, pelo prazer, pelo amor, pelo conforto... como se fosse me fundir em meio a tanta frustração. A água da chuva se misturava aos meus desejos, tornando-os cada vez mais ralos. Transformo-me em uma rota, uma rota sem fim, que só roda e roda Sem chegar a um destino. Em meio a esse espaço-homem meus desejos ficavam cada vez mais longe, mais inalcançáveis. Minha busca ia se perdendo em meio à floresta, os insetos comiam cada fragmento da minha esperança, o trem levava consigo minha dignidade, meus sonhos evaporavam junto a sua fumaça, o seu apito agudo desolava minha consciência. Os homens iam se formando, sua força ia se tornando cada vez mais gigante. Força essa que me assegurava de algo bom, que me contentava. Com o passar do tempo, minha barriga de esperança crescia encostada no fogo, no gelo da água da madrugada da neblina. Meu sonho, meu prazer, meu nascer iam se desfazendo, se juntando ao ferro, à terra, à madeira, ao suor, ao calafrio...Cada batida de ferro ia me aprisionando Naquele espaço-homem, Prisão difícil de sair, de correr. Chorei, gritei, Lutei em vão. De repente me vi Presa em braços, Em pernas, em suor, em espermas. Acorrentada á terra...Gritos de horror...A barriga, sete meses de esperança, virou sangue, sangue preto, podre sobre a lama. Quando me vi, Estava coberta de terra, musgos, chuva, formigas, larvas...Minha face de sonhos apodrecia. Minha barriga de esperança murchava. E o espaço-homem continuava se fortalecendo na terra dura e enigmática sobre mim.
O trem nascia, corria, apitava com seu sorriso hipócrita sobre meu corpo, Sobre meu sonhar. Eu, mulher, 1917, Rondônia.