sexta-feira, 7 de setembro de 2018

DIÁRIO DE BORDO - 05 A 07 DE SETEMBRO - MACEIÓ/ARAPIRACA





Flávia Diniz

Viagem cansativa. Viagem longa até o hotel. Músculos tensos. O importante é chegar bem.
Dia seguinte, partindo para Arapiraca. Dia maravilhoso e ensolarado. Dia de apresentação, encontros e reencontros. É sempre uma honra encontrar Euler Lopes, nosso dramaturgo. Dia de correria. chegar, apresentar e partir... são 37 dias longe de casa. são dois tipos de saudades: saudade da família e saudade dos encontros/intercâmbios, de cada apresentação, bate-papo das cidades em que passamos. Nordeste, onde o povo é acolhedor, é caloroso. O verde que resiste à fumaça, a queima. O sotaque que contagia. O sol que faz lembrar Porto Velho. Interior com jeito de capital. Movimentado. As crianças que sonham em ser jogadores de futebol. E todas as histórias que contam sobre a mesa, todos empolgados. Esperançosos. A saudade do nordeste guardo dentro da mala.

Agrael de Jesus

Dia 5 de setembro, partindo de Campina Grande-PB rumo à Maceió - AL, para de lá irmos para Arapiraca, nossa última apresentação do Circuito 4, trecho 8. No aeroporto é que fiquei sabendo que teria uma conexão em Recife. Foi uma viagem sui generis. Treme treme na aeronave, gritos Histéricos de medo de alguns passageiros, tensão. Chegamos sãos e salvos em Recife. Mas a coisa não ficou só nisso. Além do grande atraso para a conexão Recife/Maceió, mais de 3 horas, quando conseguimos embarcar e partir, outro treme treme, turbulência brava, mais tensão e medo. Eu, no meu canto aproveitei para dormir, nada podia fazer a não ser entregar a vida e as dívidas para Deus. Acordei nada de anormal tinha acontecido e eu continuava com as dívidas. Chegamos em Maceió. Mais uma surpresa nos aguardava. Dessa vez a confusão para localizar o hotel. Fizemos um tour noturno pela cidade. Já no hotel, banho maravilhoso e reconfortante. O amanhecer foi lindo, sol radiante, cheiro de mar (O hotel fica pertinho do mar).
Hora de embarcar na Van, finalmente rumo à Arapiraca. O caminho com uma paisagem linda: serras, montanhas, açudes, rios e lagoas. Várias cidadelas ou comunidades com nomes exóticos, por assim dizer. Em Arapiraca, cidade que ainda não conhecia, fiquei impressionada com grande número de carros e pessoas nas ruas. Coisa incrível. No hotel, enquanto aguardava a limpeza do quarto, aproveitei para almoçar ali mesmo, pois tem uma comida maravilhosa e um preço justo. No quarto descansar, organizar o figurino. De repente vem o comunicado de que o Euler Lopes, dramaturgo de As mulheres do Aluá, estava no restaurante do hotel. Desci correndo para abraçar e cumprimentar essa pessoa iluminada, Alegre, radiante, que transmite força e luz. Fomos todos juntos para o teatro Hermeto Pascoal, local lindo, pequeno, gostoso, aconchegante, acústica perfeita. No espaço Sesc fui visitar uma linda exposição denominada METAMORFOSE,  do Artista José Paulo, seu trabalho é o ordenamento e ajuntamento de peças de produtos reciclados, os chamados de "lixo". São peças simplesmente lindas, originais. No espaço também passava um vídeo do Artista/Artesão trabalhando em seu ateliê. A apresentação fluiu maravilhosamente. Energia saindo pelo ladrão. Público maravilhoso. Platéia seleta e em sua maioria formada por artistas da área teatral. O bate papo foi lindo, questionamentos eloquentes e provocadores. E como sempre quando sou diretamente questionada, só responder a emoção aflora. E aqui gostaria de pontuar: Engana-se quem pensa  ou acha que o meu emocionar é sinônimo de fraqueza. Afirmo que, graças a Deus sou um ser humano sensível. Sou gente que gosta de GENTE e me emociono. Meu emocionar por vezes, pode ser de alegria, compaixão, amor, pena, raiva contida, ódio. Sim, ódio, pois estes são sentimentos inerentes ao ser humano. E eu dou um ser humano. Minha emoção é o alimento para o meu fortalecer. E isso ninguém tira de mim. Continuarei me emocionando e por vezes chorando. Eu sou assim. Isso me faz ser essa pessoa vencedora, determinada, resolvida, realizada e feliz. Vencendo batalhas para alcançar o sucesso. Sucesso enquanto felicidade. Alegria e calma espiritual. Alcançar o sucesso sem gritar para ser vista e notada, sem pisar para aparecer e sem futricar. Hoje eu agradeço, primeiramente à Deus, por tudo o que eu sou e estou enquanto ser nesse universo. Aos meus pais que me ensinaram a ser íntegra, honesta, leal, companheira, fiel, confidente, verdadeira amiga. Agradeço também e muito sou grata aos professores, ao mestre Chicão Santos, aos colegas do O imaginário: Amanara, Edmar, Flávia e Zaine. Vocês estão me ensinando muuuuuitas coisas. Muuuuuitas meeeesmoooo!!!! Algumas por vezes me assustam, outras me deixam espantada. Mas na maioria me divertem. Estou grata ao Sesc, na pessoa da Andressa, ao Palco Giratório, por me proporcionarem essa aventura gostosa e esse aprendizado. Continuo aprendendo sempre e me emocionando muito. Vamos juntos, ainda temos muito a cumprir nessa linda e prazerosa missão. Inté.

Edmar Leite

•Dia 1
Pensativo.. Mente ocupada.. Dia de viagem. Primeiro trecho tranquilo, porém aviões pequenos são pouco estáveis e muito barulhentos.. complicado pra quem os sentidos aguçados.. porém deu pra levar. O segundo trecho foi um exercício de paciência, atraso de mais de 3 horas, o trecho foi repleto de turbulências. Foi um dia cansativo, porém com oportunidade e tempo para reflexão. Finalmente chegamos em Maceió. Uma volta por perto do hotel e descanso. Amanhã partimos pra Arapiraca.
Dia 2 (que pra Arapiraca é o 1)
Amanheceu com aquele cheiro de sal em Maceió. Sol brilhante e céu azul. Dia de viagem e apresentação. Pegando a estrada para Arapiraca pela manhã, pequena parada pra reconectar com o mar. Paisagem vasta, de serras até grandes descampados, plantações, pastagens, cidadezinhas. Do amarelo opaco ao verde vivo. Estrada boa, viagem tranquila. Chegado no hotel e logo a montagem. Trabalho duro, recompensador. Montar, contrapesar, afinar, gravar.. reencontro com o querido Euler Lopes, dramaturgo de As Mulheres do Aluá e amigo. Apresentação forte, público bom. Embalamentos, preparação pra voltar pra casa. Despedida de Arapiraca. Encerrando essa primeira grande fase da circulação pelo Palco. Arapiraca vai deixar saudades. Cidade pequena que às vezes parece grande, trânsito caótico porém calmo. Cidade bonita.
Dia 3
Dia inteiro de viagem. Estrada e ar. 12 horas. Chegada em casa. Lavar roupas e trocar as pilhas pra seguir adiante. Grato por toda essa vivência e experiências. Que venha a próxima etapa.

Amanara Brandão

A sensação de estar pela primeira vez em algum lugar é sempre especial, e quando se é bem recebida, é inexplicável. Essas últimas semanas pelo Nordeste foram assim, e em Alagoas foi pra encerrar essa etapa com chave de ouro. Apesar da canseira que bateu na chegada à Maceió, devido o atraso do vôo na conexão em Recife e depois a odisseia que foi pra achar o hotel onde nos hospedaríamos por aquela única noite, o amanhecer em Maceió foi lindo (de correria também; tomar café e partir de van rumo a Arapiraca), e aquela paradinha mínima de uns 10 min pra molhar os pés na beira mar foi essencial, pra seguir viagem em alta (afinal, era necessário um "esforço" nesse dia que já chegaríamos na hora do almoço e nos apresentaríamos à noite). No caminho segui encantanda com o povo e a paisagem tão diferente do contexto amazônico, e tão inspiradora, tocante... deu pra entender porque o Nordeste é cenário pra tantas narrativas na literatura e demais artes. Me surpreendi com o ritmo de Arapiraca, acelerado. Depois do almoço o nosso dramaturgo Euler Lopes também chegou ao hotel (que aproveitou a oportunidade de estarmos ali e saiu de sua cidade, Aracaju, pra nos assistir, depois de 3 ou 4 anos desde que foi à Porto Velho para tal). Reencontro muito alegre, pra renovar todas as trocas. Na companhia de Euler e Flávia ainda saí pra ver a praça em frente o hotel e tomar um sorvete pra adoçar a vida, antes da hora de pegar a van e partir pra lida. No Sesc, a exposição Metalmorfose, de José Paulo, coloriu meu dia, com tamanha sensibilidade e maestria em criar e recriar a partir do 'lixo' (tema que transpassa tanto também). No Teatro Hermeto Pascoal, uma graça de espaço, aconchegante, daqueles lugares que a gente só de passar o olhar fica com vontade de apresentar. E a apresentação foi mesmo muito potente, estávamos com a energia alta que nos é comum. Na conversa pós espetáculo, com o público, tantos questionamentos-reflexões surgiram que passamos mais ou menos 1 hora nessa troca intensa. O principal tema abordado, como tem acontecido (mas até então não tão intenso assim), foi a negritude, e em especial um questionamento a mim e Agrael, sobre nossa experiência como mulheres negras em cena reafirmando certos estereótipos de corpo escravizado (considerando a palavra num sentido mais amplo,  inevitável em tal contexto, onde lidamos com uma narrativa histórico documental). Veio num momento crucial, onde também tenho me questionado sobre as narrativas que quero contar e espaços que quero ocupar com meu corpo, voz, história... Esse ano, no geral, tem sido a continuação de algo que se iniciou mais ou menos aos 15 anos, que é minha percepção como mulher negra no mundo que vivo (percepção que tem ficado mais significativa com a chegada da idade adulta). Tem doído muito, não vou esconder. Tenho chorado em me deparar com tanta hostilidade, não só na questão que me atinge mais diretamente. Me dar conta da dívida histórica que ainda não reparamos e me perceber nesse momento em lugares que foram negados por tanto tempo àquelas e aqueles da minha cor tem sido de importante reflexão e inspiração, trazendo a luz do entendimento na prática. Vivo muitos embates internos cada vez que tô num Teatro, afinal, continuam sendo espaços elitizados onde ainda é a mínima parte da população que tem acesso, também com todas suas burocracias para artistas conseguirem ocupar tais espaços. Embates construtivos, que me inquietam e fazem continuar, cada vez mais firme na missão. Que bom ter alguém como a Agrael como colega de trabalho e também amiga inspiração; exemplo de mulher que vive todas as opressões sociais, que se potencializam quando a pele é escura. É uma força na qual eu me abrigo e peço socorro nos dias que doem mais...
Por fim, a noite foi de festa. Agradecimentos e comemorações por mais um circuito completo com muito êxito.
Após tanto chão, tantas horas, a chegada à Porto Velho foi uma alegria só! Minha mãe Geniele e minhas irmãs Lorrane e Lorena nos esperavam até com um cartaz, com o nome do grupo e integrantes e uma frase de elogios  e agradecimentos... Minha família sempre incrívellllll, fico toda boba com essas três... felicidade e gratidão transborda. Ao O Imaginário, ao Sesc, a todos os seres que estão disponíveis para troca conosco. Grata em especial ao diretor Chicão Santos, que nos trouxe a temática do espetáculo, acreditando em nosso potencial e com isso dando a oportunidade de nos descobrirmos também Bebé's, Elisa's, Zefa's e Catarinas, no que diz respeito à força que somos. Cada vez que apresentamos, nos reconhecemos cada vez mais empoderadas... uma revolução interna acontece e tenho certeza  que é geral. E seguirá, seguiremos.
Que venha a próxima etapa.

Zaine Diniz

Chegamos em Maceió com atraso considerável e umas turbulências literalmente, vôo com emoção! Alguns conflitos com gps e um role na cidade até chegar ao hotel, enfim a moça do app estava certa, e viva a tecnologia. Repouso merecido e no outro dia partir para Arapiraca, última apresentação dessa etapa do circuito. Gente, quantos países dentro desse nosso Brasil! Quantos sotaques distintos, cada um com sua beleza e sonoridade única. O jogo foi rápido, chegar, almoçar e se preparar. Nesse entremeio, receber Euler Lopes com seu abraço forte e aconchegante, que pessoa iluminada, com tanta energia e disponibilidade para encontros e trocas. Nosso jovem autor, dramaturgo que nos renova de possibilidades a cada encontro.  Nosso convidado especial para essa apresentação. No sesc, visitei a exposição METALMORFOSE do artista José Paulo que ressignifica e da vida a figuras tão encantadoras com objetos que aos olhos comuns não passam de lixo, ferro velho - com sua criatividade e habilidade criou um mundo de figuras, um mundo paralelo, fiquei encantada. Já no teatro Hermeto Pascoal, tudo pronto para a apresentação, trocas no camarim com Euler sempre por perto, foi uma festa. Energia a mil, elenco ligado e foi muito bom. Bate papo como sempre fervoroso sobre a temática proposta no trabalho e a certeza de que de temos conversar mais sobre o que pensamos do trabalho que estamos defendendo, sobre o nosso fazer artístico, por quê e para quê e quem fazemos e como isso nos afeta ( ou não) no nosso ser e as pessoas que nos rodeiam. Enfim, é preciso parar de olhar só para o nosso umbigo e entender que o trabalho é resultado de escolhas, podemos querer fazer e discutir e assumir o que estamos fazendo ou não ou simplesmente não querer discutir (o que é lamentável) pois há muito que se falar, se entender. Véspera de 7 de setembro, dia estranho com as notícias da política e reverberante o atentado ao candidato que prega a violência , intolerância e tantas coisas ruins... seria facada ou fakeada? Tudo é possível nessa campanha, enfim nada me surpreende tanto, prefiro dar um carinho em uma catiorinha de rua que me retribuiu em dobro. Ao som de marchas militares do desfile de 7 de setembro, deixamos essa cidade. Gratidão a esse projeto PALCO GIRATÓRIO por tantas trocas, vivências e aprendizagem. Acrescente no meu diário:   Que felicidades que nos foi proporcionado pelas irmãs e mãe da Amanara no aeroporto!!  Aquela placa de isopor com palavras tão sinceras me emocionou muito...  me senti em casa... recebido todo carinho e que é reciproco por todas elas!   Elas entendem o nosso papel na arte é na vida ,  GRATIDÃO .

Chicão Santos

Duas partidas, quatro hélices...  Intranquilidade, instabilidade e muito medo. Assim início essa narrativa de dois voos, um de Campina Grande à Recife e outro de Recife à Maceió. Pelas janelas avistava o movimento sincronizado das lâminas/turbina das aeronaves... Turbulência e um sentimento atormentador dentro de um espaço coletivo/nave. Procurei observar ao lado e parece que o medo é coletivo e único. Uma coisa incomum, talvez pela minha instabilidade também. Parecia que não era para chegar, atrasos de voos, aeronave sem tripulação e horas a fio de espera no aero/recifiense. Provisões divinas. Enfim em solo alagoano. Neste dia 05 de setembro já estávamos percorrendo em círculo no sentido contrário para chegar ao lugar de descanso. Não tardou para corrigir a rota pela geomática na linda cidade de Maceió. Ao longo o mar que observava tudo no vai-e-vem das ondas. E tudo sendo ajuizado pelos quatro cantos do país. No perfil do face book do nosso curador do Palco Giratório/SESC/Acre, uma estranha visão:

Publicado no perfil no face book
Marques Izitio está se sentindo pensativo.
5 de setembro às 00:09

“Não tenho uma boa notícia! Acabo de ter uma visão que Bolsonaro morre antes das eleições. A visão estava meio estranha. Não consegui entender do que ele morria. Mas era muito triste. Espero que eu esteja errado, porém, sempre que tenho essas visões, acontecem. Fato”.

Marques Izitio está se sentindo triste.
6 de setembro às 13 h

“Meu Deus! Estou com medo! Realmente essas visões estão perturbando minha mente novamente. Eu pensei que tinha acabado! Que Deus abençoe este homem e não aconteça o que realmente vi no final da visão”.



No dia 06, embarcamos para Arapiraca uma viagem tranquila e vista/registro desse nordeste brasileiro. Ao longo da estrada lugares, pequenos e indicativos de praias/empreendimentos. Ao longo observo duas cidades: Palmeira dos Índios e Arapiraca neste imenso agreste alagoano. A nossa Van/SESC faz um sinuoso caminho por um corredor para atingir ao seu final o estacionamento do hotel/Falcão. Tempo para um almoço, um encontro com Euler Lopes, nosso dramaturgo que veio de Sergipe/Aracajú para partilharmos de mais um encontro e de imediato partimos para iniciarmos a montagem da luz/cenário no Teatro Hermeto Pascoal no SESC Arapiraca, da apresentação deste dia de setembro no Palco Giratório e na Aldeia Arapiraca 2018. O Teatro agraciado com uma bela arquitetura cênica nos acolheu no seu “mise en scène”. No mesmo tempo que nosso Produtor/SESC/Maceió Magnum nos recebeu e também o técnico do teatro. Uma energia nos prendia e as coisas não corriam na velocidade almejada e desejada. Uma tarde estranha. Finalmente fechamos o nosso projeto/mapa das luzes. Também já circulavam pelo espaço da cena as atrizes. E entre um gosto e um ruminar de uma semente oleaginosa, observei as obras de um artista de aquilatada potencia criativa nos espaços interno/galeria e nos espaços/céu aberto do Sesc. Já anunciadas/imaginativamente às três pancadas de Jean-Baptiste Poquelin a cena se abre e o público se espalha pelas cadeiras avizinhadas a do nosso dramaturgo. Uma apresentação inquieta de mulheres para um público mais inquieto ainda. Acho que foi a plateia mais tempestiva e participativa que tivemos até agora. A participação seguiu pelo debate afora. Muitas questões postas. Por camadas sendo diluídas com certezas/verdades escavadas pelo açoite das interrogações. A instabilidade posta à prova. Conceitos desfeitos e aprofundamento de crânios para a justificação do “pensamento homem” demolidor do ser. Na dramaturgia, na encenação e na atuação pegadas e ruídos do desconforto da intangibilidade e da capacidade resolutiva que a cena/teatro não dá conta. Da minha imperfeição e da imprecisão de compreender a sutileza do movimento esmerado e oportuno do novo e velho pensamento. A carga muscular em que a mente já não comanda e obedece mais. Ainda os resquícios da turbulência e das imagens das lâminas/turbinas cortando o pensamento envaidecido e soberbo de aspirantes de uma tripulação inexistente ou que ainda não chegou. Na volta ao palco para a continuidade da desmontagem uma pérola diamantizada: quando voltarmos para nossa aldeia, “quem vai alimentar os "monstros" que criamos internamente? Eles estarão famintos, com muita fome”. A instabilidade no “pensano” que reflete a vida nacional num turbilhão de desencontros e de destino/futuro incerto. A vida segue pregando peças: quem vendia a segurança, inseguro e sendo vitimado pela própria falha na segurança. Um dia 06 de setembro, cheio de metáforas dentro e fora de mim. O encontro com Euler Lopes, nosso querido dramaturgo, me apaziguou e me tranquilizou com conversas pontuais de coisas, de pessoas, de seres e da própria natureza humana. Foram poucos os momentos mais/muito intensos. Os pensamentos acalmados pelo liquido maltado da serra/Petrópolis. Quem sabe, faz a hora... E o palco continua a girar. A independência, o grito pela independência alude na nossa dependência. Abre um sol sobre a cidade de Arapiraca, um café com projeto com Euler Lopes e Zaine Diniz para uma conversa sobre nosso encontro maravilhoso e o sinal sonoro ouvido pela janela, já nos orienta para a partida para Maceió/Porto Velho para uma breve parada na casa/ninho e seguir pelos rincões do nosso Estado/Floresta. Seguimos firmes, com base, com destino traçados e certos neste Palco que continua a girar.
























quarta-feira, 5 de setembro de 2018

DIÁRIO DE BORDO – CAMPINA GRANDE- (PB) 30/08 A 05/09





Chicão Santos

“Gostei muito da companhia de vocês. Artesãos do fazer teatral. Teatro puro. Desses que a pessoa se reconhece e se identifica. Atores e pessoas interagindo generosa e integralmente. Muito obrigado. É espero vê-los sempre que possível”. Anderson Lima – Produtor/Anjo SESC/PB.

30 de agosto, 13h40, partimos para Campina Grande na VAN/SESC. A viagem me fez lembrar as andanças/caravanas, pois a estrada/BR-230/transamazônica nos liga.

“É uma rodovia brasileira, criada durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici (1969 a 1974), sendo umas das chamadas “obras faraônicas” devido às suas proporções enormes, realizadas pelo regine militar. É a terceira maior rodovia do Brasil, com 4.223 km de comprimento, ligando a cidade de Cabedelo, na Paraíba à Lábrea, no Amazonas. É classificada como rodovia transversal. Em grande parte, principalmente no Pará e no Amazônas, a rodovia ainda não é totalmente pavimentada”.


De longe observei atentamente ao alto de um elevado/montanha uma aglomeração de prédio, uns mais altos e outros inacabados e o nosso motorista anunciava... Ali é Campina Grande. A cidade do maior evento, a cidade do folclore, do São João. Adentramos na cidade e um lago surgiu bem na nossa frente, lembrando um pouco João Pessoa, uma rápida passagem no SESC AÇUDE para deixar uns documentos e peças e fomos para o Serrano/hotel, o relógio marcou 16 horas e já estamos acomodados. Ainda na “boca da noite”, fomos numa espécie de feira/mercado popular encontramos muitas frutas e produtos da zona rural paraibana. A noite serviu para um merecido descanso. Agora no 31, ultimo dia do mês de agosto. Um café e um bate-papo com Zaine Diniz, Flavia Diniz, Amanara Brandão e Edmar Leite, para iniciar o dia. Fiz as tratativas da readequação da programação em Campina Grande, para atender a demanda local. Ainda não encontramos com o Mestre Amir Haddad que se encontra aqui ministrando oficina pela Funarte pelo programa Funarte de capacitação técnica 2018. No dia 31/08, entre uma conversa/conexão com o pessoal da Funarte sobre políticas públicas e pelos rumos que as artes no Brasil tá tomando e uma circulação pelo centro da cidade/Campina/Grande. Já estávamos no SESC centro na sala "TSI”, aguardando os participantes da oficina. Acolhido pelo nosso produtor/anjo Bruno, uma pessoa ultrassensível e que ficou o tempo todo conectado com a nossa passagem por essa cidade/sonho, do folclore e do açude velho, do maior São João do Brasil.

“Mais uma oficina maravilhosa que o @sescpb nos oferece. Desta vez com o grupo O Imaginário de Porto Velho - Rondônia. Palco Giratório: Oficina "Gestão/Produção Cultural do Nosso Ofício" Ministrante: Francisco Santos - RO. Gratidão ao SESC Campina Grande, na pessoa de @alvernandes e a todos que fazem parte do grupo O Imaginário. Let's Go Grupo de Dança/Campina Grande – PB”, fonte: face book.

As pessoas/participantes acompanhavam atentamente as explicações e o desenvolvimento do conteúdo ali estampados. Apesar da correria dos participantes das ultimas semanas não houve falta de interesse e entusiasmo em aprender e promover a troca de conhecimentos. E com tudo isso já passavam das 9 e ali encerramos o primeiro dia da oficina. No dia 01, primeiro dia do mês de setembro, a promessa de uma agenda cheia, com muitas atividades, pois em comum acordo entre a produção local e a produção do O Imaginário e pela necessidade de ajuste na programação foi antecipada as atividades de segunda-feira, pois a maioria dos participantes trabalha em outras funções/atividades e ficariam impossibilitados de participarem. E às 8 horas no Centro de Cultura do UEPB/prédio vizinho dos Correios do Centro, estávamos ali irmanados, Professor Chico e seus alunos e os integrantes do O Imaginário. A troca foi um momento impar para o fortalecimento do fazer artístico e para o teatro, nosso ofício, quatro horas de conversas e entendimento do fazer e dos saberes... Uma verdadeira aula sobre o teatro brasileiro. Relatos e experiência ditas/vividas/vivenciadas ao longo de mais de 4 décadas de teatro, um teatro que tem um compromisso social/politico/artístico. Um momento histórico tão importante que o tempo nos traiu e foi pouco para tanta necessidade de trocas das experiências e de experimentos teatrais. O nosso produtor/anjo anunciava que haveria uma entrevista ao vivo no Sesc/Centro ao meio dia, para a TV, para divulgar a apresentação de As Mulheres do Aluá. A Zaine Diniz manda o recado pela TV convidando a população para a apresentação aqui na cidade. Na sequência fomos almoçar, numa velocidade de fórmula 1, para que as 14 horas estivéssemos no SESC para o segundo dia da oficina de Gestão/Produção. Uma passagem pelo hotel para escovar os dentes e aí finalmente e encontramos o Mestre Amir Haddad, que estava sentado, terminando sua refeição, entre conversas/trocas/afetos. O mestre já estava quase de partida para o Rio de Janeiro. Trocas rápidas entre o Mestre Amir e os técnicos da Funarte, foi possível conversávamos e ver que o Mestre Amir tá muito bem de saúde e muito bem para o trabalho. Encontramos a nossa parceira/amiga Beth Araújo da Funarte, o professor de iluminação cênica Lobo e os demais professores que estavam ministrando oficinas pela Funarte. De volta ao SESC Centro, já na sala, a conversa volta com bastante intensidade e entre uma intervenção e uma pergunta os conteúdos se desenvolveram sobre projeto cultural, financiamento, conteúdo e produtos culturais, Leis, decretos, portarias e ainda sobre sistemas de produção, cadeia produtiva, economia da cultura. Uma rápida avaliação dos dois dias e já estamos dentro do Salão de Artes Visuais. Na descida da escada encontramos nosso curador da Paraíba Álvaro Fernandes, um ser inquieto e proativo no mundo/universo arte. Um forte abraço para selar esse profícuo encontro/arte. E aí uma coincidência boa encontramos com os técnicos em artes visuais/audiovisual dos Sesc do Brasil e do DN – Departamento Nacional. Ali estavam nossa Betânia (SESCRO), Poliana (SESCMT), Jane (SESCRS), que felicidade encontrar tanta gente boa e importante para as artes no País. Que salão importante para as artes visuais. Fiquei muito impactado e impressionado com as falas dos oradores, todos numa sintonia sobre a política de artes do SESC PB e assim da mesma forma fiquei feliz de ver tantas obras no salão. Na sequencia um momento para saborear um banquete oferecido aos convidados. Uma delicia para um sábado que ainda não terminou. Dali mesmo, subimos as escadas e fomos para o teatro para fechar nosso intercambio assistindo o espetáculo do Grupo, dirigido pelo Professor Chico Oliveira, um Dom Quixote e seus delírios Quixotescos. Achei uma boa sacada do SESC finalizar o intercâmbio com um trabalho do grupo. Momento importante para que a gente possa ver a cena da cidade e estabelecer uma conexão com essa produção. Ao termino deste sábado estamos completamente exausto, porém com uma vibração/energia a mil, uma energia boa circula pelo meu corpo e uma sensação de felicidade. No dia seguinte, dia da nossa apresentação, já havia agendado com nosso produtor/anjo e com o técnico de luz a montagem para as 12 horas. Eu e o Edmar fomos fazer uma caminhada matinal pela feira e como estava fechada, fomos em busca do açude velho, não mais de 40 minutos já era possível avistar o grande volume de água do açude, localizado bem no centro da cidade/grande, depois de uma água de coco e um pedido de informação, fomos em direção ao bodôdromo, uma local/restaurante onde serve comidas, especialmente da carne do bode, e em especial a buchada de bode. Ali nos estalamos e enquanto esperávamos a Zaine e Amanara, já que as demais atrizes ficaram no hotel. E ali me senti em Campina Grande saboreando uma deliciosa Buchada. Uma delicia da culinária do nosso grande Nordeste. As 14 horas já estamos no Teatro para a montagem de cenário/luz do espetáculo As Mulheres do Aluá. Uma ação rápida e tudo pronto e as 17 horas as Atrizes já iniciavam a preparação para a sessão do espetáculo no SESC CENTRO. A apresentação começou as 20h10 apedido da produção local e um bom público compareceu lotando parcialmente o lindo teatro. No debate as atrizes e a plateia fizeram a conexão com o público e os temas: violências, mulheres, histórias e suas relações neste momento da sociedade contemporânea, que ainda vive uma relação de idade média, especialmente nas relações de gênero. Neste mesmo instante a desmontagem acontecida na velocidade de sempre. Tudo embalado e na VAN depois Hotel. Ainda no SESC a triste notícia do incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, uma imagem triste da cultura nacional, as chamas derretendo tudo e todos... Uma tristeza que atinge a alma da cultura brasileira. Momento de muita tristeza e sentimento de perda.
Entre uma boa conversa no saguão do hotel e já sentíamos o cansaço e o corpo que repousa em busca de recomposição das energias. Como antecipamos as atividades do dia 03 e tínhamos o dia 04 livre. Então são duas merecidas folgas, mesmo assim hoje dia 03/09, estamos novamente no SESC para ver a cena da cidade/estado, vamos assistir: O SESC PARAIBA EM CENA, com a Cia Fuá de Terreiro, com o espetáculo: Baile Moderno. A cena aberta a atriz/bailarina embala as pessoas para a cena adentrar e a cachaça beber. Um arqué para a alma humana. Ao som da rabeca e na manipulação de objetos, do metal ao barro. Quatro jovens talentos inicia uma viagem pelas matrizes da nossa cultura popular brasileira/nordestina. Uma estrutura de matrizes de coco, maracatu, ciranda com uma mistura de influência afro-indígena, com um fio condutor da contoria dos folguedos populares mas atravessando a ponte do tradicional com o moderno, sem perder a conexão com a ancestralidade e a maestria do griós. Fiquei muito impressionado com as atrizes/dançarinas e com a performance de “Topete” e Edmilton. Pessoas/meninos que admiro e gosto muito. E que tive a oportunidade de conhecê-los em 2013, na sede do “Quem tem boca é para gritar”. Um trabalho que reporta a tese que defendo de formação de atores a partir das estruturas das matrizes da cultura popular/cavalo marinho.

“Olha, eu que agradeço pela compreensão do grupo, parabenizar pelo trabalho maravilhoso e pelas pessoas magnificas e simples que vocês são. 2018 tem sido desafiador e encontrar um grupo com a energia de vocês ameniza toda a carga ... Desejo muito mais sucesso! e contem conosco!”. Bruno nosso Produtor/Anjo do SESC/Campina Grande – PB.

No dia seguinte, dia 04 de setembro, tivemos o privilegio de almoçar/degustar uma “buchada de bode”, seguido de umas águas/ardentes de Serra Limpa, na companhia do nosso curador/Paraíba Álvaro Fernandes. Que oportunidade generosa e ímpar. Gratidão eterna Álvaro. E ainda para completar nosso cardápio/agenda cultural nessa Campina Grande um espetáculo do “Sonora Brasil do SESC”, com o sofisticadíssimo repertório do “Quinteto de Metais da UFBA. Depois dessa chuva que caiu no sertão é hora de partir para Maceió/Araripina. Até mais breve Paraíba.

Agrael de Jesus

Satisfação, emoção, recordações. Sentimentos borbulhando. Deus me permitindo mais uma vez ver e rever lugares dantes visitado. Campina Grande, local onde curti vários São João. Pena que agora não é época dos festejos juninos. Translado de João Pessoa à Campina Grande, de Van, viagem maravilhosa, permitindo apreciar a paisagem,  terra castigada pela sêca, falta d'água, sofrimento. Agora a paisagem está um pouco amena em virtude das poucas chuvas que caíram. Alegria ao adentrar na cidade e encontrar o famoso Açude Velho. Local onde antigamente fornecia água para toda Campina Grande, hoje serve de capitação de todo o esgoto da cidade. Infelizmente. Após alojar no hotel fui fazer uma visita na feirinha (que de "rinha" não tem nada), na realidade é uma feirona. Dia 01/09, o intercâmbio foi uma coisa muito prazerosa, conhecer o professor Chico Oliveira, pessoa abençoanda e iluminada. Encontro dos dois Chicos: Chico Oliveira e Chicão Santos. As falas dos dois, cada um com sua particularidade e conhecimentos distintos, foram uma aula para minha pessoa inexperiente, engatinhando na arte teatral. A tarde desse mesmo dia tivemos o primeiro dia de oficina, público maravilhoso, pessoal cedente de conhecimentos. Dispostos a alimentar mais e mais o leque de vivências. Os dois dias de oficina foram enriquecedores. Anoite assistir o espetáculo Delírios Quixotescos( adorei o título kkkkkkkkkk). A nossa apresentação foi explendida, plateia embasbacada com o tema e como é passado, retratado. Na segunda-feira fomos presenteados com um lindo espetáculo de dança: Aliás, uma miscigenação de vários segmentos: coco, tribal, cavalo marinho, etc....Muita resistência corporal. Nossa última noite tivemos o coroamento, bálsamo para o corpo, mente e alma: Quinteto de Metais. Simplesmente lindo e maravilhoso. Obrigada ao SESC C. Grande-PB. Foi tudo muito intenso, porém maravilhoso. Obrigada Álvaro, Bruno, Lizandra. Gratidão imensa.


Zaine Diniz

Que delicia a viagem de van até essa cidade!  A paisagem que se modifica, traz uma calma que eu precisava para continuar a jornada. A cidade, com uma correria mais rural me lembrou Cacoal, cheio de carros indo para as linhas e comunidades próximas - soa mais rural que urbana.  Esse lugar me presenteia com a culinária maravilhosa!  Rubacão, carne de sol e queijo coalho assado!! Impossível não ser feliz aqui. Me impressiona também o lado nada bonito da cidade: mal cheiro das vielas, pedintes com necessidades especiais pelas calçadas do centro, a violência que a tv mostra a todo momento, nos revela as mazelas desse interiorzão de meu Deus.  Nos primeiros dias, intensas atividades: oficina de produção onde chicao santos com sua maestria conduziu tão bem e novamente deu um show de competência e comprometimento com a função. Varias produtores culturais e artistas na sala para estudar e discutir a produção e gestão, entre essas pessoas, a nossa querida Cynthia Anjos, nossa “cria” que passou pela primeira e inesquecível turma do Tapiri e que há cinco anos saiu de Porto Velho pra seguir seu caminho por essas terras, foi lindo encontra la e matar um pouco da saudades, faltou ver a pequena Sofia, mesmo assim, obrigada pelo carinho e companhia e continue trilhando pelos caminhos da arte, do teatro, do cinema, onde quiser. O intercâmbio com a cia do Rosário sob o comando de Chico Oliveira foi encantador, pela sua luta e resistência no fazer teatral, na cena de Campina Grande e da Paraíba. Assistimos o espetáculo resultado da turma de 2016 do seu núcleo de pesquisa “Delírios Quixotescos”, assistimos também o trabalho forte dos nossos amigos de João Pessoa - Topete e Ademilton que com seu grupo deram um show de côco, caboclinhos, maracatu de quintal aliados com eletrônico de uma guitarra que tocou fundo, bem como a energia e prontidão das meninas em cena que realmente arrepiou até a alma e que lindo a reverência, o carinho e o respeito para com os mestres onde eles beberam da sabedoria e prática que fizeram parte da caminhada de cada um. Revigorei me nas emoções que a arte é capaz de nos presentear.  Cada vez mais entendo a necessidade de nos profissionalizar mais e quanto é necessário o amadurecimento - não falo de idade cronológica - mas de emocional pra poder transitar em uma circulação como essa. Não tem espaço para trololós, precisamos crescer e nos fortalecer e prevalecer o bom senso, humildade e reconhecimento da nossa função e missão diante de um projeto como Palco Giratório, onde giramos literalmente por esses palcos, essas culturas tão diferentes e tão grandiosas, com tantos encontros marcantes e que com certeza deixamos um pouco de nós e levamos também da arte do outro. Para finalizar, assistimos ontem o quinteto de metais da universidade da Bahia, onde me tocou muito pela exímia execução das peças e pela reverência aos mestres , meu pensamento e coração remeteu ao meu avô Maestro Didi - Juvêncio Aquiles Diniz  in memória - do qual só sinto não ter aproveitado tanto a sua companhia, a sua sabedoria e sua arte, pois era muito criança quando ele partiu , e que ficou suas partituras, sua obra e a saudade. Seguindo agora para Arapiraca, cidade que estarei pela primeira vez, assim como foi Campina Grande, primeira vez! Ansiedade por conhecer e depois 3 dias em casa, ansiedade também ...  gratidão e saudades me resume.

Flávia Diniz

Paraíba foi/é intensa, necessária e inspiradora! Encontros e reencontros. Interior com jeito de capital. O sotaque fascinante, encantador, culinária atraente. Sol com direito a vento e à noite com vento congelante. Um pouco interior, um pouco capital. Com cavalos, burros, carros, pessoas generosas, cuidadosas. Pessoas de bom humor, que está no seu biotipo projetar a voz, a gargalhada. Me faltam adjetivos para descrever uma cidade tão receptiva, tão admirável.
Muito produtivo nossa passagem por Campina Grande. Tivemos um intercâmbio maravilhoso com o Núcleo de manutenção de repertório. Foram apenas quatro horas de troca, que passaram tão rápido e se deixasse, poderíamos ficar o dia todo com essas pessoas tão carismáticas. Foi dia de correria (que eu amo). À tarde, fomos para a oficina e que sempre me faz pensar muito sobre o artista empreendedor. Ainda tenho que aprender muito. Tivemos a oportunidade de assistir o espetáculo Delírios Quixotescos, com a direção do Chico Oliveira. Tão bom ver aquelxs jovens se dedicando ao seu ofício, que tem todo o potencial e que estão numa crescente.
 Ainda tivemos a oportunidade de encontrar o mestre Amir. É uma grande inspiração ver essa pessoa com 80 e poucos anos e com a energia de um jovem.
Dia de apresentação, o teatro lindo, todo conservado. O bate-papo foi muito rico.
Os dois dias que tivemos livre, foi de muita introspecção. Um projeto tão maravilhoso que é o palco giratório, nos possibilita conhecer os trabalhos dos artistas locais.

Edmar Leite

#Campina Grande - PB

•Dia 1

Despedida de Jampa. Mais uma vista das franjas do mar. Dia de viagem. Estrada tranquila e viagem também. Paisagem descampada, dura, porém bela. Chegada tranquila. Pequena volta aos arredores. Descanso.

•Dia 2

Dia da primeira parte da oficina de gestão e produção; turma boa, interessada, participativa, questionadora. A oficina fluiu de forma dinâmica e natural. Idéias gerais sobre projetos, realidades, troca.

•Dia 3

Dia repleto de atividades. Logo pela manhã intercâmbio com o professor Chico e sua turma. Contextos, históricos, importância do debate e do encontro. Logo antes do almoço rolou entrevista ao vivo para divulgar o espetáculo. Reencontro com o Grão Mestre Amir Haddad, que veio para ministrar oficina de um ciclo da Funarte. De tarde a segunda parte da oficina, novas compreensões, crescimentos. Revendo a Cynthia, parceira do grupo que agora mora por aqui. Vernissage do Salão de Artes Visuais do Sesc, com direito a performance e reencontro com a Beta, amiga pessoal e técnica do nosso Sesc. Pra fechar a noite o espetáculo "Delírios Quixotescos" da turma do Núcleo de manutenção de repertórios e do Núcleo de Pesquisa Experimental Teatral do professor Chico. Um dia repleto.

•Dia 4

Dia de montagem e apresentação, tudo ocorreu muito bem. De maneira rápida e tranquila, graças aos desdobramentos do técnico local Gláucio, que proporcionou as montagens tanto da luz como do nosso som. A apresentação foi tranquila, público reagiu e comunicou, bate papo fluiu.

•Dia 5

Dia livre, aproveitando para conhecer um pouco mais da cidade. Volta nos arredores do açude e nas dimensões do Museu de lá. De noite prestigiamos um espetáculo de ritmos e dança; com base em coco, maracatu, ciranda, danças populares em feral e até os 4 fatores de Labba; esse Baile Muderno da Cia Fuá de Terreiro.

•Dia 6

Dia livre e bom pra se reorganizar. Fechando o ciclo daqui com o início do Sonora Brasil, assistindo a apresentação do Quinteto de Metais. Cidade de interior com arquitetura grande, trânsito brabo, mas calma. Suas ladeiras, clima hora quente, hora esfriando com seu forte vento na noite. Cidade boa pra voltar um dia.

Amanara Brandão

 "Discriminação por orientação sexual é ilegal e acarreta multa". De João Pessoa à Campina Grande foi o que mais li (placas ou adesivos por quase todos os estabelecimentos comerciais), além de muitos pixos pelos muros com dizeres feministas. Um indício da necessidade de que esses assuntos sejam "desenhados" para lidar com tamanha violência de gênero que permeia todo esse país?
Percebi nessa terra mulheres "arretadas", vi em tantos semblantes a força que o sertão nos obriga a ter. "É o Palco Giratório acontecendo e meus "dentes do juízo" nascendo... enrra!" foi uma anotação que fiz por aqui; esses dias em Campina foram de tpm, fase sensível. O calor intenso nos dias e o frio estranho das noites mexeram comigo. Busquei nos encontros, tão preciosos, superar essas "coisinhas" íntimas que me afligiram um tiquinho. Conhecer o Chico Oliveira e sua turma, numa troca matinal intensa foi de alimentar as esperanças, assistir ao espetáculo de encerramento da turma completou essa troca linda. Os dias da oficina de Gestão Cultural foram, mais uma vez, espaço para ampla reflexão. Sábado ainda apreciamos a abertura da Exposição de Artes Visuais no Sesc, uma oportunidade de conhecer os artistas  e seu trabalho (como o Flaw, que esteve por lá organizando, além de expor e performar), onde encontrei também a amiga Betânia, que está por aqui representando o setor de Artes Visuais do Sesc Rondônia. No domingo, dia da nossa apresentação (que, confesso, não achei que foi uma das melhores - visto o quanto sabemos que podemos oferecer) conheci minha nova prima Loriene, rondoniense também que comentou, ao assistir o espetáculo, ter relembrando seus tempos de criança, em Porto Velho, época do ciclo do ouro por lá... Os dois dias livres em Campina Grande deram o tempo de, além de apreciar apresentações de outros grupos e cair na dança com a Cia. Fuá de Terreiro (PB) na segunda-feira e deliciar-se com o Quinteto de Metais(BA) na terça-feira, observar e me surpreender com a falsa calmaria que percebi na cidade no primeiro momento... perceber no Açude Velho a dificuldade humana em lidar com seus resíduos (não só físicos, mas principalmente ou primeiramente mental), ver a luta pela sobrevivência no meio urbano, a violência à qual esse modo de organização social nos condiciona...

Pela janela do hotel, intercalando leituras e a observação do pôr do sol em meio as construções verticais foi meu passa-tempo preferido nesses dias que a vida me pesou, no útero e na consciência.