quinta-feira, 21 de junho de 2012

ELISA E SUA HISTÓRIA

Elisa instalou-se na Vila Murtinho, juntamente quando estava em construção da Estrada Madeira-Mamoré. Mulher de nacionalidade Boliviana, trouxe sua filha de nome Dolores (idade 9 anos, presume-se) para tentar uma vida nova. Elisa foi julgada em 26/08/1912 por não apresentar condições morais de criação de sua filha, já que se prostituia para sobreviver. O juiz substituto Dr. Marcelino Costa se propôs a obter tutela da menor, acreditando ter idoneidade suficiente para cuidar da criança. Após um tempo Dr. Marcelino abdicou desse pedido, por afastar-se de suas atividades para cuidar de sua saúde, sendo encaminhada a criança então para o Doutor Nulpiano Machado, curador de Órfãos. O curador de órfãos, dentro de suas atribuições encontrou o senhor Antônio Celestino Correia Costa,que aceitou prestar o compromisso de tutela da menor.

Memórias 2 Mariana Pereira

Meus sonhos são como água fervente... Evaporam num instante. Nas minhas veias o sangue sempre correu como água na correnteza... “O rio não é o mesmo de ontem, no entanto eu olho com o mesmo olhar, buscando o novo do rio, com as coisas velhas da alma!. (Nilza Menezes) Certo dia, estava bebendo e um homem me bolinou, me agarrou... Nessa hora fui logo explicando, não lhe dei liberdade e quando alguém atravessa o sinal... Pego a primeira coisa e jogo para cima do infeliz. Vou repetir: não sou uma assassina!! Só não levo desaforo para casa e nunca abaixo a cabeça para ninguém, pois ninguém é melhor do eu. Quero viver em paz, criar meus filhos, ter uma casa, um marido e fazer tudo o que as pessoas fazem. O sangue sempre banhou o caminho da minha alma, do meu espírito, do meu ser! Quem sou eu? Quem sou eu?

Memórias 1 Mariana Pereira

As coisas acontecem na minha vida... Certas coisas não deveriam acontecer... poderia ficar trancada bem quietinha dentro de mim, feito água de cacimba, remanso de rio ou folhas sem vento. Mas quando algo inesperado aconteceu... eu viro bicho, tudo em mim se transforma como se fosse uma tempestade... uma explosão nuclear. Quando um homem me bate, algo dentro mim não gosta... Aí vem um desejo incontrolável e acontecem as coisas. “Choro sangue uterino, sempre que essa lua cheia cisma em passar pelo céu noturno, obedecendo o ritual da minha espécie que teima... lágrimas, sangue e filhos” (Começo a gritar) bebi, bebi, tudinho (solta um gargalhada) Você pensa que vim de sua costela? Está redondamente enganado, você é que veio do meu útero.

Memórias Mariana Pereira

Eu Mariana Pereira, tenho 42 anos, nasci no Seringal Aliança, matei meus dois maridos e joguei água fervendo no outro, mas paguei tudo direitinho. Tinha tempo que eu enlouquecia e quando acordava já tinha esquecido tudo e ai as pessoas me contavam o acontecido. Por isso digo: não era eu que matava, mas sim uma força estranha que me dominava (Pomba-Gira). Era algo tão forte que invadia meu corpo... As vezes eu ficava tão fora de mim.. que não sabia de nada, nada mesmo. Eu gostava dos dias de chuva e correria para o quintal... A chuva sempre me acalmava. Ficava rodando igual um pião, rodava na terra e ficava toda suja, às vezes eu tinha cada ideia estranha e começa a gritar: Jesus mostra teu rosto... Eu falava para aquelas nuvens que parecia Jesus. Me tira deste sofrimento. Cura a minha alma. O primeiro amor ninguém esquece... (como pomba gira ) como ninguém esquece! Meu primeiro macho foi um louco, sem consideração, me batia, me dava murro, me castigava, me xingava, me humilhava e zombava muito de mim. Mas eu gostava... ele me dava muitos presentes... E o que carrego dele? São dois filhos, que eu embuchei quando tinha 14 e 15 anos. Foi num período, da minha vida que eu era muito lesa, besta, uma dessas sem noção. Eu não sabia de nada... Um dia ele foi embora.E os outros passaram como o vento... (sobra ao ar), sem história, sem importância. Minha vida esta presa a este cárcere oculto... Nas paredes frias e escuras que estão guardadas as minhas lembranças... Lembranças de um tempo em que a alma lagrimava pela face... O horror e o medo sempre caminharam ao meu lado, e sempre tentaram me levar para um abismo infinito! Suportei... não me entreguei... Não tenho respostas... Tudo foi apagado e a minha história virou cinzas.

domingo, 17 de junho de 2012

IN PROCESSO

A pesquisa avança e chega a fase da definição de quem são essas mulheres. O perfil foi a primeira tarefa para as alunas. Com muitas horas de dedicação, leituras de processos, quase inelegíveis, pela ação do tempo, buscas em bibliografias, livros, fotos e artigos. O trabalho baseia-se na oralidade, memórias e narrativas. Toda a construção é desenvolvida a partir da linha de encenação desenvolvida pelo diretor Chicão Santos que que consiste da composição das atrizes. A segunda etapa é o levantamento das memórias e posteriormente a transformação em texto dramatúrgico. E lá vamos nós trabalhando e ativando energias e ressuscitando memórias. Até terça-feira, na finalização desta duas etapas do processo.